A Citânia de Sanfins é uma das estações arqueológicas mais significativas da cultura castreja do Noroeste peninsular e
da Proto-história europeia. A vasta panorâmica sobre toda a região de Entre-Douro-e-Minho, que dela se abrange,
terá sido factor estratégico determinante do desenvolvimento deste importante povoado.
A observação das suas áreas de influência permite questionar a formação deste “lugar central” no
quadro da rede de povoamento castrejo regional.
Tudo indica ter sido escolhido, na sequência da campanha militar de Décimo Júnio Bruto (138-136 a.C.)
até à ocupação romana do Noroeste (29-19 a.C.), como capital dos povos Calaicos, dos Brácaros,
situados na margem direita do Douro. Este sítio era já conhecido,
tendo sido detectados elementos vestigiais mais antigos.
Suspeita-se de um fundo pré-histórico do período calcolítico e achados de escavações
documentam ter sido habitado por uma pequena população
entre os sécs. V e III a.C. na parte superior da colina,
identificável com a unidade étnica dos Fidueneas epigrafada no “Penedo das Ninfas”(fase I).
O grande aglomerado da Citânia, terá resultado, porém, da congregação (sinecismo) de diversas
comunidades limítrofes por motivos estratégicos sequentes à campanha de Décimo Júnio Bruto,
desempenhando, então, o lugar de capital regional (fase II).
Tendo-se transformado num castro reduzido, simples aldeia, kóma, segundo Estrabão,
com a conquista do Noroeste pelos exércitos de Augusto,
ocupava apenas a plataforma limitada pela muralha central,
onde se procedeu a uma profunda reestruturação urbana em função do fomento da actividade metalúrgica (fase III).
Com as reformas flavianas praticadas na região, terá entrado num período de declínio,
com uma população cada vez mais diminuta a cultivar os campos das imediações,
até ao seu abandono em meados do séc. IV (fase IV).
O cemitério cristão implantado na sua acrópole e a capela de S.Romão
que se lhe sobrepunha documentam uma fase datada da Baixa Idade Média (fase V),
já sem qualquer relação de carácter cultural com a Citânia a não ser como reconhecimento de uma ancestralidade,
de que estes traços de natureza religiosa são a melhor evocação.
Diversas notícias históricas, desde há muito,
se reportam mais ou menos directamente à Citânia de Sanfins,
delas se destacando as referências de D. Jerónimo Contador de Argote nas suas Memorias
para a historia ecclesiastica do arcebispado de Braga (1734),
do Diccionario geografico (1758) do P. Luiz Cardozo e
do romance O segredo do abade (1864) de Arnaldo Gama.
Campo privilegiado de investigação desde os tempos pioneiros da Arqueologia nacional,
atraindo para estudo sistemático grandes vultos e instituições da cultura portuguesa e estrangeira,
cumpre referir sobretudo o interesse de F. Martins Sarmento e J. Leite de Vasconcelos e,
em especial, a actuação da equipa de Eugénio Jalhay e Afonso do Paço e seus colaboradores,
posteriormente continuada por docentes e
nvestigadores da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que,
com o esforço de numerosas e sucessivas campanhas,
tornaram a Citânia de Sanfins numa das mais prestigiadas estações arqueológicas peninsulares.
![]()
![]()
![]()
![]()