Menos de 24 horas depois de a cápsula Fénix ter descido pela primeira vez ao local onde se encontravam os 33 mineiros, chegou à superfície o último dos homens que estavam há 69 dias presos na mina do Chile.
Os mineiros – 32 chilenos e um boliviano, com idades entre os 19 e os 63 anos – estão, em geral, de boa saúde. Infecções dentárias foram o problema mais comum encontrado pelos médicos, após os primeiros exames, feitos logo depois do salvamento. A um dos homens foi diagnosticada uma pneumonia.
O resgate deu-se com uma cadência quase de relógio, repetida 33 vezes de forma idêntica e seguida em directo em todo o mundo: a cápsula Fénix (com 54 centímetros de diâmetro e pintada com as cores do Chile) descia até ao fundo da mina, um dos mineiros entrava com o auxílio da equipa de seis socorristas, e a subida, nos casos mais rápidos, durava menos de dez minutos.
À chegada à superfície, cada mineiro era aguardado pela família e saudado com palmas e gritos. Muitas vezes ouviram-se “vivas” pelo Chile. Os abraços aos familiares, aos amigos e aos elementos da equipa de socorro foram capturados ao detalhe pelas muitas câmaras e pelos milhares de jornalistas no local.
Ao longo de toda a operação, várias câmaras – dentro da mina, à superfície e até instaladas no topo da cápsula, para filmar as viagens – transmitiram para o mundo inteiro, numa cobertura ininterrupta.
Os mineiros saíam da cápsula de óculos escuros (para evitar a exposição à luz depois de mais de dois meses debaixo de terra), quase todos de barba feita ou aparada, e alguns de cabelo recém-cortado. Depois dos primeiros momentos com a família, eram transportados para observação médica.
A partir do final do dia (hora de Lisboa), quando cerca de dois terços dos mineiros já estavam a salvo, o ritmo da operação acelerou e depressa se percebeu que, se não houvesse imprevistos, o resgate terminaria antes do previsto.
O líder do grupo foi escolhido para ser o último a sair. Luís Urzúa Iribarre (apelidado de Don Lucho) chegou à superfície por volta das 22h00 chilenas (2h00 em Lisboa). Foi recebido efusivamente, com sirenes, buzinas e um aplauso prolongado.
Não houve pressa em levar Iribarre para junto da equipa médica. Antes disso, ouviu o agradecimento do Presidente chileno, Sebastián Piñera, cantou o hino com a pequena multidão que estava San José (a última das muitas vezes que se ouviu o hino chileno no local), agradeceu aos socorristas e acabou por ficar, bandeira do Chile pendurada ao pescoço, a conversar tranquilamente com Piñera.
Piñera fez ainda um discurso final no local do resgate. "Hoje, o Chile é um país diferente do que era há 69 dias", afirmou. Deu os mineiros como um exemplo, referiu-se ao salvamento como "um milagre" e agradeceu depois a solidariedade dos presidentes de vários países sul-americanos, entre os quais o brasileiro Lula da Silva e o boliviano Evo Morales.
Já em inglês, disse "ter a certeza" de que o Chile era agora "um país mais respeitado".
"Estou muito orgulhoso de ser o presidente do Chile neste ano, em que tivemos tantas adversidades", disse ainda, lembrando o terramoto de Fevereiro.
Os 33 mineiros estiveram encerrados a cerca de 700 metros de profundidade desde 5 de Agosto, na sequência de uma derrocada.
As televisões ainda mostraram imagens dos socorristas no fundo da mina. Em pose para a câmara, seguravam um pano onde se lia "Missão cumprida Chile".
Fonte:Publico.pt