"Posso deixar de conduzir o burro mas o vinho não deixo"
Agosto 18, 2010
adamirtorres
Agricultor conduzia carroça embriagado.
Foi detido pela GNR e o burro ficou à beira da estrada preso a uma árvore.
Nos Salgueirais, uma pequena aldeia do concelho de Celorico da Beira, correu célere a detenção de Jorge Rodrigues,
apanhado a conduzir uma carroça atrelada por um burro, com uma taxa de álcool de 2,84.
Foi a segunda vez que tal aconteceu, mas nem as circunstâncias nem a elevada taxa causaram estranheza no povo.
Afinal, "passa os dias a beber até cair".
Jorge, de 34 anos, foi apanhado na quarta-feira à noite, em Celorico, quando regressava a Salgueirais.
"Mandaram-me parar e soprar ao balão", conta. Perante a elevada taxa de alcoolemia,
foi conduzido ao posto da GNR enquanto o burro ficou à beira da estrada,
"preso por um baraço [corda] a uma árvore", afiança Jorge.
Como em Celorico da Beira a GNR não dispõe de um aparelho para fazer a contraprova,
Jorge foi levado à GNR da Guarda onde foram confirmados os 2,84 g/l de taxa de álcool.
Ficou detido e na quinta-feira foi levado ao Tribunal de Celorico da Beira de onde foi mandado
em liberdade até à realização do julgamento.
Foi buscar o burro e voltou à vida de sempre, na companhia da mulher, de 54 anos, Conceição.
Jorge "não sabe ler nem escrever" e de leis "pouco percebe".
Mas sabe que "esta foi a segunda vez" que foi apanhado a conduzir a carroça embriagado.
Mas na aldeia todos se lembram. "Foi há um mês quando ia pela estrada, bêbado e provocou um acidente",
diz Diogo Cardoso. Jorge é bem conhecido. Pelas piores razões.
Ele e a mulher "embebedam-se e só fazem disparates", revela o ancião.
Ao lado, Paulo Francisco acena, em concordância. Jorge nasceu na Velosa,
uma aldeia do outro lado da serra e foi viver para os Salgueirais
"com uma mulher mais velha que ficou viúva e tem uma pequena pensão",
adianta Paulo Francisco. Conceição "tem problemas de álcool e os filhos já por duas vezes a levaram para tratamento,
mas quando sai do hospital cai nas mãos deste patife e passam a vida nisto", atira Diogo.
Na aldeia a notícia da detenção "só trouxe alegria". É que o casal "são uns pilha-galinhas.
Deitam a mão a tudo quanto podem".
Pedro Santos que o diga. "Uma ocasião vim a casa e vou dar com ele deitado na minha cama.
Veio para roubar e adormeceu..." O casal "não trabalha e deita a mão a tudo quanto arrebanha", conclui.
Para o povo, o problema são os animais. "Têm uma cadela que é pele e osso.
Passa os dias sem comer e o burro leva cada enxerto de porrada que mete dó.
E, quando andam nas tabernas, o animal fica ao deus-dará", diz Deolinda, outra vizinha,
para quem o casal "precisa de ajuda. De manhã à noite bebem e depois ficam em casa a curar a tolada [bebedeira].
Às vezes ficam vários dias sem saírem de casa", desabafa.
Queixas que não atemorizam Jorge Rodrigues, que ontem já andava estrada fora com a sua carroça.
Nem o tribunal o amedronta. "Não penso largar o vinho. Posso deixar de conduzir o burro,
mas o vinho não deixo", garante ao DN.