Sindicato acusa "clima de pressão" nas fábricas Ikea em Paços de Ferreira, empresa refuta acusações
Outubro 14, 2010
adamirtorres
O Sindicato da Construção de Portugal vai pedir a "intervenção urgente" da Inspecção Geral do Trabalho nas fábricas do grupo Ikea em Paços de Ferreira, cujos trabalhadores diz estarem a ser prejudicados face aos companheiros das lojas da marca.
"Em Paços de Ferreira, onde a maioria dos cerca de 1.000 trabalhadores são mulheres, o salário é 475 euros, quando nas lojas o mínimo é 600 euros", afirma o presidente do sindicato, Albano Ribeiro em declarações à agência Lusa. Segundo Albano Ribeiro "a maioria" das trabalhadoras da Swedwood (braço industrial do grupo Ikea) "desempenha funções de operárias qualificadas, mas tem a categoria de operador indiferenciado, que não existe no contrato aplicável ao sector do mobiliário". Por outro lado as funcionárias fabris não têm à disposição creches para os filhos, como acontece nas lojas do Ikea, e sofrem "uma pressão muito forte" no trabalho. "Elas não podem levantar que têm uma pessoa a controlá-las", diz o dirigente sindical, exemplificando que "não podem ir à casa de banho sem que a peça que está a ser feita fique terminada".
Contactada pela agência Lusa, a responsável pela área de comunicação corporativa da Ikea em Portugal, Ana Teresa Fernandes, afirma-se "surpreendida" com as acusações, assegurando que esta "não é a forma de trabalhar de nenhuma empresa do grupo". De acordo com Ana Teresa Fernandes, o "salário de entrada" na Swedwood é, de facto, de 475 euros, "mas após oito meses passa para outros valores". Aliás, frisou que, "desde que a Swedwood opera em Portugal, a massa salarial foi alargada em 3% ao ano".
Relativamente à disparidade face aos ordenados praticados na rede de lojas, Ana Teresa Fernandes considera que "é uma questão de bom senso, porque no retalho há outro tipo de especificações que não há na indústria". A responsável garantiu ainda que, na empresa, "a comunicação é muito aberta e as pessoas são muito bem-vindas a dizerem o que pensam", pelo que "não faz qualquer sentido falar em clima de pressão".
Albano Ribeiro, considerando contudo que "há uma injustiça muito grande", diz que vai "pedir, com carácter urgente, a intervenção da Inspecção Geral do Trabalho", destacando que em causa está "uma grande empresa, que recebeu muitos apoios do Estado português". Para o sindicalista o grupo sueco de mobiliário "está a aproveitar-se do desemprego existente no sector das madeiras em Paços de Ferreira, onde muitas empresas desapareceram precisamente com a criação do Ikea", porque "entre não ter nada ou alguma coisa, as pessoas sujeitam-se". A prová-lo, diz, está o facto de, "sendo do mesmo grupo, os direitos que existem na Suécia não terem nada a ver com o que se está a praticar em Portugal: na Suécia os funcionários têm muito mais regalias, mas basta ir a Matosinhos para a situação ser muito melhor".